Bússola Estudantil

Jornal escolar da Escola Secundária de Loulé

É justificável a crença em Deus na ausência de evidências concretas?

Ensaio filosófico desenvolvido no âmbito do Clube de Filosofia da Escola Secundária de Loulé

Problema: É justificável a crença em Deus na ausência de evidências concretas?
Tese: A racionalidade e a busca pelo conhecimento exigem que as nossas crenças sejam fundamentadas com argumentos sólidos. Desta forma, apoio que não é justificável a crença em Deus na ausência de evidências concretas, uma vez que, sem evidências, qualquer crença por mais reconfortante que seja, pode conduzir a erros de julgamento.
Argumento 1: Em primeiro lugar, a crença deve ser baseada em evidências. Para considerarmos uma crença justificável, devemos ter fundamentos sólidos e verificáveis que a sustentem. Sem evidências, qualquer crença se torna arbitrária e infundada.
Contra-argumento 1: Por outro lado, alguns teólogos e defensores da fé religiosa afirmam que a fé não necessita de evidências, pois é uma convicção pessoal e íntima que transcende a necessidade de provas empíricas.
Argumento 2: No entanto, a ausência de evidência pode ser interpretada como evidência de ausência. Se, após uma investigação rigorosa, não encontrarmos provas da existência de Deus, a crença torna-se injustificável. Esta ausência de confirmação empírica enfraquece a base racional para acreditar em algo tão fundamental quanto a existência de um ser divino.
Contra-argumento 2: Embora se possa argumentar que a ausência de evidência não prova a inexistência, isto apenas desloca o problema, pois a falta de provas pode significar que ainda não foram encontradas.
Argumento 3: Além disso, o problema do mal coloca sérias dúvidas sobre a existência de um Deus omnipotente e sumamente bom. Filósofos ateístas, como Epicuro e David Hume, argumentam que a existência do mal e do sofrimento no mundo é incompatível com existência de um Deus todo-poderoso e benevolente. Se Deus existisse e fosse omnipotente e sumamente bom, não permitiria o mal injustificado.
Contra-argumento 3: Alguns teólogos, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, respondem ao problema do mal com a defesa do livre-arbítrio, afirmando que Deus permite o mal para preservar a liberdade humana.
Argumento 4: Contudo, essa defesa é insuficiente para explicar o mal natural, como desastres naturais e doenças, que causam sofrimento sem depender das ações humanas. Se Deus fosse omnipotente, poderia ter criado um mundo onde o livre-arbítrio existisse sem o sofrimento.
Contra-argumento 4: Outro argumento teísta é que o sofrimento tem um propósito divino maior que não podemos compreender.
Argumento 5: Ainda assim, esta justificação é vaga e não oferece uma base sólida para a crença. Como argumenta o filósofo ateísta John Mackie, qualquer defesa que justifique o mal como necessário para um bem maior ainda implica que Deus escolhe permitir o sofrimento, o que é incompatível com uma natureza perfeitamente benevolente.
Conclusão: Em suma, a falta de fundamentação sólida compromete a racionalidade e para promover um entendimento mais claro e verdadeiro do mundo, é essencial basear as nossas crenças em evidências verificáveis. Além do mais, a existência do mal e do sofrimento no mundo questiona a ideia de um Deus todo-poderoso e sumamente bom.


Texto de:
Catarina Secrieru
11ºD (2023 -2024)| Clube de Filosofia

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