É justificável a crença em Deus na ausência de evidências concretas?
Ensaio filosófico desenvolvido no âmbito do Clube de Filosofia da Escola Secundária de Loulé
Ilustração de Lina Campos, criada com Microsoft Designer
Problema: É justificável a crença em Deus na ausência de evidências concretas?
Tese: A racionalidade e a busca pelo conhecimento exigem que as nossas crenças sejam fundamentadas com argumentos sólidos. Desta forma, apoio que não é justificável a crença em Deus na ausência de evidências concretas, uma vez que, sem evidências, qualquer crença por mais reconfortante que seja, pode conduzir a erros de julgamento.
Argumento 1: Em primeiro lugar, a crença deve ser baseada em evidências. Para considerarmos uma crença justificável, devemos ter fundamentos sólidos e verificáveis que a sustentem. Sem evidências, qualquer crença se torna arbitrária e infundada.
Contra-argumento 1: Por outro lado, alguns teólogos e defensores da fé religiosa afirmam que a fé não necessita de evidências, pois é uma convicção pessoal e íntima que transcende a necessidade de provas empíricas.
Argumento 2: No entanto, a ausência de evidência pode ser interpretada como evidência de ausência. Se, após uma investigação rigorosa, não encontrarmos provas da existência de Deus, a crença torna-se injustificável. Esta ausência de confirmação empírica enfraquece a base racional para acreditar em algo tão fundamental quanto a existência de um ser divino.
Contra-argumento 2: Embora se possa argumentar que a ausência de evidência não prova a inexistência, isto apenas desloca o problema, pois a falta de provas pode significar que ainda não foram encontradas.
Argumento 3: Além disso, o problema do mal coloca sérias dúvidas sobre a existência de um Deus omnipotente e sumamente bom. Filósofos ateístas, como Epicuro e David Hume, argumentam que a existência do mal e do sofrimento no mundo é incompatível com existência de um Deus todo-poderoso e benevolente. Se Deus existisse e fosse omnipotente e sumamente bom, não permitiria o mal injustificado.
Contra-argumento 3: Alguns teólogos, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, respondem ao problema do mal com a defesa do livre-arbítrio, afirmando que Deus permite o mal para preservar a liberdade humana.
Argumento 4: Contudo, essa defesa é insuficiente para explicar o mal natural, como desastres naturais e doenças, que causam sofrimento sem depender das ações humanas. Se Deus fosse omnipotente, poderia ter criado um mundo onde o livre-arbítrio existisse sem o sofrimento.
Contra-argumento 4: Outro argumento teísta é que o sofrimento tem um propósito divino maior que não podemos compreender.
Argumento 5: Ainda assim, esta justificação é vaga e não oferece uma base sólida para a crença. Como argumenta o filósofo ateísta John Mackie, qualquer defesa que justifique o mal como necessário para um bem maior ainda implica que Deus escolhe permitir o sofrimento, o que é incompatível com uma natureza perfeitamente benevolente.
Conclusão: Em suma, a falta de fundamentação sólida compromete a racionalidade e para promover um entendimento mais claro e verdadeiro do mundo, é essencial basear as nossas crenças em evidências verificáveis. Além do mais, a existência do mal e do sofrimento no mundo questiona a ideia de um Deus todo-poderoso e sumamente bom.
Texto de:
Catarina Secrieru
11ºD (2023 -2024)| Clube de Filosofia