Exposição de Fotografias de Diogo Margarido na ESL
Lisboa, 1975
Fotografia de Diogo Margarido
Assinalam-se presentemente os cinquenta anos do fim da Ditadura do Estado Novo e da transição de Portugal para a Democracia.
O fotógrafo Diogo Margarido viveu este período, capturou muitos momentos dessa liberdade recém adquirida e retratou alguns dos seu eventos marcantes, fazendo um alargado e assinalável registo fotográfico.
Fotógrafo amador desde o fim dos anos cinquenta, Diogo Margarido associa este retrato dum Portugal livre e interventivo com todo um trabalho anterior em que registou um pais, quer rural , quer urbano, que associava alguma expansão industrial e urbana com aspectos de uma persistente pobreza e dureza.
Bairro de Lata nos arredores de Lisboa, 1974
Fotografia de Diogo Margarido
Bairro de Lata nos arredores de Lisboa, 1974
Fotografia de Diogo Margarido
Em anos recentes, alunos dos cursos Profissionais de Técnico de Multimédia e de Técnico de Design de Comunicação Gráfica da Escola secundária de Loulé têm procedido à digitalização e tratamento das fotografias, realizadas à data em película a preto-e-branco.
Este trabalho tem sido realizado no âmbito de Formações em Contexto de Trabalho coordenadas pela Câmara Lucida – Associação de estudos de Fotografia, em estreita colaboração com o fotógrafo, e contando com o apoio da Biblioteca Escolar.
É uma seleção de vinte destas imagens, dos anos 1974 e 1975, que se encontra agora em exposição na Galeria da Biblioteca Escolar, destacando-se imagens da primeira celebração do Primeiro de Maio e do registo dos suportes de propaganda política que se espalharam pelo país nessa altura.
Primeiro de Maio de 1974
A celebração do 1º de maio de 1974, apenas uma semana decorrida após a revolução do 25 de abril, foi a maior manifestação popular da História Portuguesa.
Em Lisboa, vindos de todo o lado, muitos milhares de pessoas dirigiram-se para Alameda Dom Afonso Henriques.
Pelo caminho, eram visíveis colchas colocadas nas janelas a assinalarem a festa que aquele dia foi.
Trepava-se para cima de qualquer ponto alto para ver com os próprios a escala dos números, para ter certeza do que parecia impossível.
O Primeiro de Maio de 1974,
fotografia de Diogo Margarido
O Primeiro de Maio de 1974,
fotografia de Diogo Margarido
Diogo Margarido, que partilhava do entusiasmo que esbordava e unia civis e militares (apesar de alguns receios que fizeram o Movimento das Forças Armadas colocar franco-atiradores em alguns telhados), manteve um olhar certeiro e captou fantásticos instantâneos desse dia único de alegria e duma unidade que depressa apresentaria fissuras.
O Primeiro de Maio de 1974,
fotografia de Diogo Margarido
O Primeiro de Maio de 1974,
fotografia de Diogo Margarido
A propaganda política
Um dos aspectos visuais mais marcantes do período que imediatamente se seguiu ao 25 de Abril de 1974 foi o da proliferação de propaganda política.
Propaganda política na Estação do Rossio, Lisboa, 1975
fotografia de Diogo Margarido
O que antes era um ato proibido, passou a ser uma realidade omnipresente em poucas semanas. As raras pichagens anti-regime, actos subversivos que arriscavam prisão em caso de flagrante delito, destinadas a ser rapidamente cobertas, deram lugar um a todo um universo de palavras de ordem, denúncias e até de ameaças de vingança política.
Logotipos de partidos eram pintados ao lado de verdadeiro murais revolucionários, e os cartazes passaram a cobrir tudo, paredes, muros, postes de iluminação, portas, até outros cartazes.
Faixas, bandeiras, até enormes reproduções de pinturas maoistas de origem chinesa, passaram a ser afixadas e penduradas por todo o lado, em sedes partidárias, em casas particulares, em fábricas e até no teatro Nacional D. Maria II.
Propaganda política na Estação do Rossio, Lisboa, 1975
fotografia de Diogo Margarido
Propaganda política, Lisboa, 1975
fotografia de Diogo Margarido
Diogo Margarido registou profusamente estas «batalhas» de propaganda que acompanharam o período e as suas eleições, as suas manifestações, os seus momentos de conturbada agitação militar e política.
Texto de:
Júlio Ribeiro
Professor de Artes Visuais | Professor Bibliotecário