Bússola Estudantil

Jornal escolar da Escola Secundária de Loulé

Redes Sociais e Plataformas Digitais, Realidade Virtual e Inteligência Artificial

No âmbito do primeiro tema “Redes Sociais e Plataformas Digitais, Realidade Virtual e Inteligência Artificial”, do ciclo de debates do Clube de Filosofia, “O que é Realidade ? (Verdade – Validade – Autenticidade)“, no dia 18 de abril, o aluno Alexandre Lopes apresentou um contributo a debate a partir do qual desenvolveu o seguinte ensaio.

(1) Até onde é que a liberdade individual nas redes sociais pode ser compatível com a responsabilidade moral de preservar a saúde mental e a privacidade?

Neste ensaio filosófico, irei utilizar o termo “redes sociais” como um site ou aplicação que permita a partilha de conteúdos com terceiros e “Algoritmo de IA”, como um algoritmo que permita a construção de perfis para influenciar conteúdo que aparece nas redes sociais.

(2) Apesar da liberdade individual que as redes sociais proporcionam, estas têm impactos negativos na saúde mental e na privacidade dos utilizadores.

(3.1) Apesar da liberdade individual que as redes sociais proporcionam, estas têm impactos negativos na saúde mental e na privacidade dos utilizadores porque, diariamente, ao navegarmos nas redes sociais, somos influenciados pelos algoritmos de IA, resultando em mudanças significativas nos nossos comportamentos. Isto torna-nos mais egocêntricos e exibicionistas. Assim, adquirimos mais objetos, que nem necessitamos e nem conseguimos comprar, apenas para apresentá-los online. Além disso, estes comportamentos influenciam quem nos rodeia, fazendo com que os outros pensem que as nossas vidas são um mero “arco-íris”, quando muitas das vezes não o são. 1)
Estudos têm demonstrado que mais de 10% dos adultos, na faixa
etária dos 20 anos, sofrem de narcisismo e, quanto maior o nível
de narcisismo, maior a ansiedade.
(3.2) Apesar da liberdade individual que as redes sociais proporcionam, estas têm impactos negativos na saúde mental e na privacidade dos utilizadores porque, como apreciamos receber atenção, partilhamos conteúdo nas redes sociais, recebendo-a através de comentários e gostos. Plataformas como o Facebook, Twitter, YouTube e Instagram desenvolveram estes mecanismos, de engenharia social, para nos cativarem. No final das contas, as redes sociais são um negócio, cujo objetivo é manter os utilizadores ligados o máximo de tempo possível para recolherem mais dados e mostrar publicidade personalizada. Quando recebemos um like ou um comentário positivo, libertamos dopamina, proporcionando uma sensação agradável. A dopamina atua como um sinal de recompensa, levando-nos a publicar mais conteúdo para reviver essa sensação, tornando-se um ciclo, o que pode aumentar a ansiedade. Para além disso, podemos sentir-nos mais isolados e ter dificuldade em dormir. Este ciclo é preocupante.
(3.3) Apesar da liberdade individual que as redes sociais proporcionam, estas têm impactos negativos na saúde mental e na privacidade dos utilizadores porque, ao acedermos a uma rede social, estamos automaticamente a fornecer dados que são utilizados para criar um perfil detalhado de nós próprios, violando a nossa privacidade. Esses dados são usados pelos algoritmos de IA, que fazem suposições sobre os nossos gostos e até podem ser usados para avaliar se alguém representa uma ameaça suficiente para ir “para trás das grades”. Para além das redes sociais, outras
plataformas também utilizam os nossos dados de formas que comprometem a nossa privacidade. O argumento de “não ter nada a esconder” não é válido, como é demonstrado pelo caso de Mark, que tirou uma foto médica do seu filho e que, ao ter sido colocada acidentalmente no Google photos, foi mal interpretada por um algoritmo, resultando em sérias consequências pessoais: como perder tudo o que tinha na cloud e ainda vir a ser investigado pela polícia. Esta história demonstra o poder que os nossos dados podem ter e os riscos associados à sua recolha. 2)
(3.4) Apesar da liberdade individual que as redes sociais proporcionam, estas têm impactos negativos na saúde mental e na privacidade dos utilizadores porque a integração de algoritmos de inteligência artificial nas redes sociais resulta na criação de conteúdo personalizado para cada utilizador. No entanto, esse conteúdo personalizado tende a ser cada vez mais extremista devido à personalização de conteúdo, formando bolhas
de informação, que pretendem atrair o utilizador para as redes sociais. Dentro dessas bolhas, as ideias são extremamente polarizadas e extremistas, promovendo o conteúdo dramático ou emocional, tudo de acordo com o perfil do utilizador. Para além disso, essas bolhas contribuem muito para a desinformação do utilizador, mostrando apenas um lado da moeda. 3) As eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos da América foram fortemente influenciadas pelo Tiktok. Os utilizadores desta
plataforma foram influenciados por algumas das fake news espalhadas por esta app, o que alterou e influenciou a decisão de várias pessoas no ato de voto. Muitas das consequências provenientes destas bolhas de informação trazem problemas para a saúde mental dos indivíduos e alteram a forma de pensar destes.

Em suma, a liberdade individual nas redes sociais está em conflito com a responsabilidade moral de proteger a saúde mental e a privacidade. Os algoritmos de IA, ao personalizarem o conteúdo, alimentam comportamentos narcisistas e a ansiedade, enquanto a recolha de dados compromete a privacidade.

1)https://www.newportinstitute.com/resources/mental-health/social-media-narcissism/
2)https://web.archive.org/web/20230625193039/https://www.nytimes.com/2022/08/21/technology/google-surveillance-toddler-photo.html
3)https://www.bbc.com/news/technology-54374710


Texto de:
Alexandre Lopes
10ºF | Clube de Filosofia

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