“Será possível conhecer?” (III)

Continuação de:
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Argumentação: Ergo, Sum
No sentido de não incorrer em nenhuma Falácia de Petição de Princípio, começar-me-ei por considerar em termos de aquisição de Conhecimento como uma “Folha em Branco”. De facto, ao considerar isto, e não podendo, pelo menos nesta etapa de uma investigação deste tipo, pelas razões já evidenciadas, considerar que o conjunto das Faculdades da Razão e da Experiência Sensível me permitem obter efetivo Conhecimento, resta-me voltar-me para mim mesmo: para o meu Objeto da Realidade.
Ao me considerar neste estado de ignorância original, começo por me aperceber da imensa multiplicidade e variedade de coisas que no meu Objeto da Realidade se encontram em permanente mutação, em permanente devir: os Pensamentos, as Perceções Sensíveis, as Emoções, o Corpo (embora não o possamos considerar nesta etapa da argumentação), as Inclinações da Vontade, a própria Vontade, … , em suma, aparentemente tudo.
Porém, ao Experienciar a mutabilidade de todas essas coisas do meu Objeto da Realidade, acabo por Experienciar, se atentar de modo crítico, um Senso de Permanente Identidade que atribui, de certo modo, Unidade a todas essas restantes coisas que constituem o meu Objeto da Realidade, quer entre elas, quer ao longo das sucessões de eventos. E, reparo ainda que, ao longo dessa mesma sucessão de mutabilidades, permanece firme em mim a firme convicção da Verdade desse Senso de Permanente Identidade experienciado.
Mas, de onde vem exatamente essa firme convicção? Será que há efetivamente alguma garantia de que esse Senso de Permanente Identidade experienciado não constitua uma mera ilusão sem qualquer correspondência face à Realidade? Ora, de facto, a mera possibilidade da continuadamente retomada experienciação e reconhecimento do carácter Permamente e Imutável desse Senso de Identidade ao longo da minha existência pressupõe, necessariamente, a efetiva Realidade de uma Permanente e Imutável Identidade que o experiencie e reconheça enquanto tal, ou seja, a efetiva Realidade de ‘Eu’. Com efeito, como poderia eu experienciar uma constante Identidade se não possuísse uma efetiva Identidade que a experiencia-se como tal. É exatamente neste sentido que advém o absurdo que é alguém negar a sua própria Identidade. A realidade do Ser Eu é, neste sentido, uma Verdade obtida mediante um Princípio de Garantia por Auto-Evidência, que advém, assim, de um total Conhecimento por presença, resultante da presença dele a si mesmo.
Assim, em verdade, o carácter Permanente e Imutável desta Identidade, o Eu, é, neste sentido, o Fundamento que possibilita, sobre a sua Unidade, a existência das incessantemente mutáveis potencialidades do nosso Objeto da Realidade (como o corpo e as Faculdades da Emoção, Perceção, Pensamento, etc.) enquanto tal, sendo que, sem este, jamais poderiam existir e revelar-se do modo unificado com que surgem à nossa consciência e, em última análise, jamais poderiam efetivamente existir; pelo que a existência do nosso Objeto da Realidade depende, necessariamente, desse Ser Eu que deverá constituir, neste sentido, a sua Forma Substancial. 14 Este Ser Eu, expresso sobre o referido Senso de Continuidade e Identidade do Eu, é o que possibilita, neste sentido, por exemplo, a sucessão de todos os nossos pensamentos. De facto, como nos poderia ser possível pensar segundo uma sucessão de pensamentos que se modificam de instante em instante sem uma base ontológica que fundamentasse essa sucessão de mutabilidades sobre uma mesma Unidade?
Assim, o Ser Eu é como o tronco de uma árvore, sem o qual todos os ramos e folhas dessa árvore caíriam. Do mesmo modo, sem este Ser Eu, o Mundo das nossas Perceções e Pensamentos esfacelar-se-ia numa multidão de pequenos fragmentos momentâneos impossível de se reunificar novamente.
Em suma, este Ser Eu é aquilo que de facto eu sou e que está por baixo de todas as minhas esperiencias sensíveis e mentais momentâneas. Este Ser Eu não se trata, neste sentido, de uma necessidade perante o instantâneo pensamento (como sugere Descartes: “penso, logo existo”) mas de algo que permite, entre outras coisas, a sucessão unificada dos múltiplos pensamentos sobre uma mesma consciência que se identifica com esse Ser Eu.
Assim, conclui-se que o Conhecimento é possível de se concretizar em um qualquer Sujeito Consciente, nomeadamente na ‘Pessoa Humana’, pelo que é possível Conhecer.
