Qual é a minha posição em relação a Deus?
Texto de Leonor Reis da turma H do 11º ano, produzido no âmbito da disciplina de Filosofia, ministrada pelo professor Hélder Lourenço.
A existência ou não existência de Deus, um ser superior, sempre foi um tema bastante debatido e difícil de encontrar uma resposta, visto que se trata de um assunto maioritariamente racional, vindo das crenças de cada um, onde as soluções apenas se encontram no inteligível. Ao longo dos séculos vários filósofos defenderam ou não a existência de um Deus. A meu ver, Deus existe. Neste ensaio irei mostrar algumas teses e respetivas objeções assim como a minha posição a cada uma delas.
Comecemos pelo argumento teológico de William Paley. Este argumento, à posteriori e a favor da existência de Deus, dita: As máquinas são criadas por seres inteligentes. O universo assemelha-se a uma máquina. Provavelmente, o universo foi criado por um desígnio inteligente. Logo, o universo foi criado por Deus. A meu ver, este argumento tem uma vertente verdadeira, por outro lado, é falso. A beleza, a complexidade, a ordem e o aparente não podem ser simplesmente causados por processos naturais e insensatos. No entanto, não concordo que Deus, sendo ele relojoeiro, mude o mundo a seu próprio proveito. Vendo algumas objeções. “É um argumento por analogia e de pretensões, de modo que será pouco consistente”. Concordo, o que não anula o facto de achar verdadeiro. Há diversas áreas de estudos que a ciência não conseguirá concluir. Por exemplo, não terá sido Deus quem fez ocorrer o fenómeno do Big Bang? Muitas das teorias que ouvimos e acreditamos, tal como anteriormente o Big Bang, são teorias que, ainda que apoiadas por muitas pessoas, se encontram ainda muito pouco desenvolvidas e ainda muito longe de estarem suficientemente estruturadas. “Pode ser uma máquina, mas não quer dizer que seja criado por Deus”. Sendo eu crente de Deus, acredito em todas as suas características e poderes divinais, que podem existir como forma de pessoa, forma de espírito, forma de minhoca ou de elefante. Uma máquina, sendo ela o universo, cheio de complexidade e de vida, só pode ser criada por alguém superior e sobrenatural. Ou seja, só pode ser criada por Deus, independentemente da sua forma.
Vejamos o argumento cosmológico, um argumento de São Tomás de Aquino (séc. XIII). Trata-se da questão empírica: Por que razão existe alguma coisa? Tudo foi causado por algo anterior. Como sabemos que o universo existe, sabemos que algo provocou o universo. Porém, essas progressivas causas não podem ser infinitas. Logo, Deus é a primeira causa incausada. Concordo com este argumento, apesar de se verificar um pouco a petição de princípio em relação ao argumento teológico. Eis algumas objeções ao argumento: “Se tudo tem uma criação, então é contraditório com a conclusão ao dizer que Deus não tem.” e “Defende simultaneamente uma causa causada e uma não causada.” Tudo é causado por algo, já que não têm um poder para se criarem por si mesmos. Deus é omnipotente, omnisciente e omnipresente, podendo ser causa de si mesmo. Referindo novamente a teoria do Big Bang, sabemos através dessa teoria que a energia e a massa que existiam estavam concentradas num único átomo. Quem criou esse átomo? Deus; “Poderão existir apenas causas infinitas.” Segundo a Bíblia Católica, Apocalipse 22:13: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro, o princípio e o fim.” Poderão existir causas infinitas no meio, mas Deus é a primeira causa e será também a última. “Mesmo que exista uma causa incausada, não quer dizer que seja Deus.” A justificação a esta objeção é a mesma para a objeção do argumento teológico de que o universo poderá ser uma máquina, mas não quer dizer que tenha sido criado por Deus; “Kant diz que as causas só dizem respeito ao mundo sensível, por isso não podemos estender as causas até Deus.” Não concordo, pois o mundo sensível é bastante limitado. O mundo é muito mais do que sensível e, ao dizer isso, Kant não está a querer sair da caverna e à procura da luz (resposta) da primeira causa incausada.
Para terminar os argumentos a favor, temos o argumento ontológico de Santo Anselmo de Cantuária (séc. XI). Deus existe no nosso entendimento. Se algo existe no entendimento, existe também na realidade, então pode ser ainda mais grandioso. Logo, Deus existe no nosso entendimento e na realidade. Eu apoio este argumento. Encontra-se com a posição de Descartes. Descartes acredita então na existência de Deus, pois acredita num ser perfeito, que nos criou a nós, imperfeitos, e, na nossa imperfeição, encontramos a perfeição que é Deus. Então, tal como um artista assina a sua obra, Deus assinou na nossa mente, já que somos a sua criação. Se nós existimos – penso, logo existo. – Então Deus também existe. “Podemos justificar a existência de qualquer coisa, mesmo absurda”. Não devemos pensar em coisas absurdas. Antes era absurdo o homem ir à lua, no entanto lá chegámos. Isso é o mesmo exemplo das sereias. Todos deduzem que as sereias não existem, já que é uma espécie de origem ficcional, no entanto, apenas conhecemos 10% dos oceanos e das suas espécies, o que não retira a possibilidade de haver sereias, o que para muitos é algo absurdo. Vejamos agora o principal argumento contra a existência de Deus, o argumento do problema do mal. Se Deus é omnisciente, omnipotente e sumamente bom, porque é que há sofrimento? Segundo Leibniz, tem a ver com a justiça de Deus (teodiceia), onde a dor e o sofrimento são uma forma de punição ou prova de Deus. Na minha posição, não significa uma punição, já que Deus perdoa, após o nosso arrependimento, todos os nossos pecados, no entanto, diria que sim, é, em forma de prova, para ver a nossa força de vontade. Exemplo: com a situação da Covid, muitas pessoas ficaram gravemente doentes, mas isso talvez as tenha conduzido a reavaliar os seus comportamentos e objetivos e, com a ajuda e a fé de Deus, conseguiram melhorar e tornar-se melhores pessoas. Leibniz procura também justificar a bondade e a perfeição divinas, apesar da existência do Mal que reina no mundo. Pretende demonstrar que não se pode imputar a Deus os erros do mundo. Concordo com esta posição. Deus, tendo todo o poder, conhecimento e presença, mostra o quão inferior somos, sendo nós a sua criação. O mal moral é o mais grave problema, pois supõe que se ultrapassem duas contradições: a contradição entre a nossa liberdade (livre-arbítrio) e a omnipotência divina; a contradição entre a omnipotência divina e a sua infinita bondade. Deus tem, sim, todo o poder, mas não o usa diretamente em nós de modo a sermos marionetes. Deus dá-nos sinais e cabe-nos a nós, sermos distraídos e não os vermos ou olhar para as pequenas coisas, escolhendo o caminho do mal ou o de Deus, que está a falar connosco. Desse modo, Deus é sumamente bom. Sendo Deus, tem o poder de melhorar o mundo, no entanto, tenta mostrar-se como um igual e sofrer connosco. Jesus Cristo, que para os cristãos foi Deus na Terra, morreu por toda a corrupção e ganância dos homens. Deus é também uma figura paternal. Como um pai presente e apoiante mostra-nos, através de vários sinais, o que é o bem e o que é o mal. No entanto, só nós é que praticamos as ações. “Mas, a existência do mal gratuito não será uma evidência de que o nosso mundo não é o melhor mundo possível?” Leibniz afirma que Deus tem razões para permitir a existência do Mal no mundo, não havendo, por isso, males gratuitos ou injustificados. No entanto, existe o exemplo do veado de Rowe, que retrata a existência de mal gratuito. O bem e o mal são faces da mesma moeda. Para existir o bem, tem de existir o mal, assim como existe o homem e uma mulher, o belo e o feio. Se existe Deus, existe também uma figura que representa o mal, conhecido como o Diabo. Desde o início dos tempos que ambos os lados tentam manifestar-se, havendo sempre uma disputa dos dois lados da balança. Há uma infinidade de atos de bondade e de maldade. Há prazer e há sofrimento, porque há vida. No momento em que o veado foi atingido, não sabemos o seu passado. Este animal, um animal selvagem e com intuições, poderia estar desorientado com a tempestade e ter-se abrigado. No entanto, continuou exposto. Nem tudo é culpa de Deus, porque se Deus existe, também existe o Diabo e este acontecimento poderá ter sido obra do Diabo.

Existe depois o argumento do apostador, onde há quatro resultados possíveis, de modo a minimizar as perdas e maximizar os ganhos, tal como a regra maximin. Se apostarmos na existência de Deus e ganharmos, ganhamos a vida eterna. O que perdemos, se apostarmos nesta opção, são alguns prazeres mundanos, muitas horas a rezar e viver as nossas vidas debaixo de uma ilusão. Contudo, se escolhermos apostar na opção da inexistência de Deus e ganharmos, viveremos uma vida sem ilusão e teremos a liberdade de gozar os prazeres desta vida sem medo do castigo divino. Mas, se apostarmos nesta opção e perdermos, perdemos pelo menos a possibilidade da vida eterna e podemos mesmo correr o risco da condenação eterna. Ou seja, segundo Pascal, é melhor acreditar na existência de Deus. Assim, se tivermos razão, estaremos em posição de obter a vida eterna. Se apostarmos na existência de Deus e não tivermos razão, não estaremos em posição de perder tanto quanto estaríamos se escolhêssemos acreditar na inexistência de Deus e não tivéssemos razão. Logo, se queremos maximizar os nossos ganhos possíveis e minimizar as nossas perdas possíveis, devemos acreditar na existência de Deus.
Termino este ensaio com a seguinte objeção:
“Porque é que há sofrimento se Deus existe?”. É errado tentar resolver esta pergunta, porque nunca haverá uma solução consistente. Talvez esta seja a questão pela qual muitas pessoas não acreditam em Deus. Mas eis a minha posição sobre esta pergunta: Deus é criador de todo o nosso mundo. Sendo o Mundo e, nós mesmos, criaturas de Deus, temos fragilidades, pelo simples facto de sermos criação. A vida tem nela a condição de sofrimento. Todos nós temos obstáculos e fraquezas que são apenas nossas, não de Deus. O que poderemos fazer? Podemos ter fé Nele. E será que a fé elimina o sofrimento? Não. Não tira o sofrimento, mas dá sentido à nossa vida. Jesus Cristo, filho de Deus, é um grande exemplo disso. Morreu e sofreu na Cruz, mas foi salvo pela fé e o amor de Deus. Isto não retira o facto de ser injusto haver crianças e pessoas doentes, no entanto a vida e o ser humano estão sujeitas ao sofrimento, porque é a vida. Pedro 5:9: “Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé, sabendo que os irmãos que vocês têm em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos.”
Uma reflexão fundamentada é sempre sinal de crescimento e de sentido de responsabilidade! Ciência e Fé não são necessariamente antagónicas e um aprofundamento da Ciência pode muitas vezes levar a uma aproximação de Deus. Parabéns Leonor!