Será a existência de Deus racionalmente justificada?
Ensaio filosófico desenvolvido no âmbito do Clube de Filosofia da Escola secundária de Loulé
Ilustração de Lina Campos, criada com Microsoft Designer
(1) Será a existência de Deus racionalmente justificada?
(2) Neste ensaio filosófico iremos argumentar a favor da existência de Deus, e como esta pode ser justificada a partir da lógica formal. Entendemos como Deus a entidade que resume todas as perfeições: omnipotência (tudo pode), omnipresença (está em todo o lugar ao mesmo tempo), omnisciente (tudo sabe), sumamente bom e infinitamente justo.
(3.1) Primeiramente, a própria definição de Deus constitui um argumento a favor da sua existência. Como Deus é omnipotente, então é plausível ele poder existir.
Nesta ideia baseia-se o argumento ontológico. Este descreve Deus como o ser mais perfeito imaginável nas nossas mentes. Caso existisse um ser mais perfeito na realidade, este seria mais perfeito do que Deus, pois existir é mais perfeito do que não existir, sendo por isso concebível um ser mais perfeito que Deus (o que nos leva a uma contradição). Por isso Deus teria de existir tanto no pensamento como na realidade. (C.A.1) Todavia, este argumento confere à existência características de propriedade quando esta não as possui. Kant referia que um triângulo existente não se podia distinguir de um inexistente, dado que ambos possuem três lados, sendo a existência um fator externo às características de um conceito. Assim, seria indistinguível um Deus existente de um não existente, dado que a existência não é um predicado.
(3.2) De uma visão matemática, uma probabilidade de 0% é impossível, assim, qualquer fenómeno possui uma chance não nula de ocorrer. Tal propriedade abre diversas hipóteses como a dos infinitos mundos. Nesses infinitos mundos, existe uma chance de Deus em pelo menos um deles. Pela omnipotência e omnipresença divina, Deus seria capaz de transitar entre universos, passando a existir em todas elas.
(C.A.2) Contudo, a possibilidade de um “multiverso” ou o próprio conceito de probabilidade ainda é um conceito que sofre bastantes críticas, todavia também já foi comprovado matematicamente indícios da sua existência e os quais não de vem ser ignorados, o que pode retornar força ao argumento.
(3.3) Outra possibilidade para provar a sua existência seria através da superação das leis da lógica formal. Tal pode ser possível com recurso à própria lógica formal. Conceitos ilimitados como o infinito serão capazes de contrariar certos princípios lógicos. No exemplo do infinito, este é igual e diferente de si próprio, violando a princípio da não contradição (o conjunto dos números pares é uma parte do conjunto dos números naturais, todavia ambos têm a mesma magnitude, pois ambos são infinitos). Sendo Deus o conjunto das perfeições ilimitadas (como o infinitamente
poderoso), há possibilidade da entidade divina superar as leis da lógica, podendo passar do plano lógico para o plano ontológico, como Kant referia ser impossível.
(C.A.3) No entanto, usar a lógica, um método com possíveis “falhas” paradoxais, para explicar a existência de Deus seria uma atitude imprudente. Apesar desses possíveis “defeitos”, a lógica ainda se torna uma ferramenta forte na produção de conhecimento, não sendo perfeito, mas sendo a melhor ao nosso alcance na elaboração de raciocínios.
(3.4) Na física quântica, matematicamente descrita, alguns sistemas podem possuir determinadas propriedades de entre as quais a sobreposição, onde um corpo se encontra em dois estados complementares ao mesmo tempo. Deus, enquanto ser omnipotente, conseguiria adquirir essa propriedade, podendo entrar num estado de existente e inexistente simultâneo. Pela soma dos estados, poderíamos indicar que o estado de existência está presente e, assim, Deus teria ultrapassado o falso dilema de Kant (onde este indicava que Deus ou existia ou não existia, impossibilitando a conjunção dos dois estados). (C.A.4) Porém, a sobreposição também defende a inexistência do ser divino, podendo atribuir um carácter agnóstico ou ateísta ao argumento. Contudo, o problema referia-se somente à possibilidade da justificação da
existência de Deus e não da refutação da sua inexistência. Sendo Deus o ser ilimitado, este é capaz de existir e de não existir, porém, estes estados não são duas possibilidades incompatíveis, mas sim estados complementares da totalidade concebível da figura divina.
Texto de:
Luís Semião
11.º D (2023-2024)|Clube de Filosofia